Cantiga de acordar

dezembro 18, 2006 às 7:03 am | Publicado em Chico Buarque | Deixe um comentário

Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés
Chico Buarque

Copo vazio

dezembro 18, 2006 às 6:27 am | Publicado em Chico Buarque | Deixe um comentário

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar

É sempre bom lembrar, guardar de cor
Que o ar vazio de um rosto sombrio
Está cheio de dor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
Que o ar no copo
Ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade

A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia
Uma metade vazia
Uma metade tristeza
Uma metade alegria

A magia da verdade inteira
Todo-poderoso amor
A magia da verdade inteira
Todo-poderoso amor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.

Chico Buarque.

Joana em A gota d’agua

dezembro 16, 2006 às 5:37 pm | Publicado em Chico Buarque | Deixe um comentário

Tudo está na natureza
encadeado e em movimento –
cuspe, veneno, tristeza,
carne, moinho, lamento,
ódio, dor, cebola e coentro,
gordura sangue e frieza.
isso tudo está no centro
de uma mesma e estranha mesa
Misture cada elemento –
uma pitada de dor,
uma colher de fomento,
uma gota de terror
O suco dos sentimentos,
raiva, medo ou desamor
produz novos condimentos,
lágrima, pus e suor
Mas, inverta o segmento,
intensifique a mistura,
temperódio, lagrimento
sangalho com tristezura,
carnento, venemoinho,
remexa tudo por dentro,
passe tudo no moinho,
moa a carne, sangue e coentro,
chore e envenene a gordura
VocÊ terá um unguento,
uma baba, grossa e escura,
essência do meu tormento
e molho de uma fritura
de paladar violento
que, engolindo, a criatura
repare o meu sofrimento
com a morte, lenta e segura.

Eles pensam que a maré vai mas nunca volta
Até agora eles estavam comandando
O meu destino e eu fui, fui, fui, fui recuando,
recolhendo fúrias.Hoje eu sou onda solta
e tão forte quando eles me imaginavam fraca
Quando eles virem invertida a correnteza,
quero saber se eles resistem à surpresa,
quero ver como eles reagem a ressaca.

Chico Buarque e Paulo Pontes

dezembro 16, 2006 às 5:32 pm | Publicado em Chico Buarque | Deixe um comentário

A vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar

Ela faz cinema

novembro 22, 2006 às 12:23 pm | Publicado em Chico Buarque | Deixe um comentário

Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri
Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama
Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual

Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão
Me clama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz

Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
e quando o meu coração
Se inflama

Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca

 Chico Buarque

Roda viva

novembro 22, 2006 às 10:49 am | Publicado em Chico Buarque | Deixe um comentário

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mardar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá …
Roda mundo roda gigante
Roda moinho, pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração.

Chico Buarque

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