Te desejo..

dezembro 29, 2006 às 10:09 pm | Publicado em Victor Hugo | 6 Comentários

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De sua próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

Victor Hugo

Você é…

dezembro 29, 2006 às 10:08 pm | Publicado em Martha Medeiros | 5 Comentários

Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.

Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.

Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.

Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.

Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.

Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.

Martha Medeiros

dezembro 29, 2006 às 10:08 pm | Publicado em Trechos | Deixe um comentário

“As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer “o melhor” das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar, duram uma eternidade.”

– Clarisse Lispector

Rubem Alves

dezembro 20, 2006 às 12:28 am | Publicado em Rubem Alves | Deixe um comentário

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Rubem alves -trecho

A lingua girava no céus da boca

dezembro 20, 2006 às 12:07 am | Publicado em Carlos Drummond de Andrade | Deixe um comentário

A língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único.

O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre. Eu, ela, elaeu.

Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu. A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava. Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.

A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência. O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor.
do livroO amor natural”- Carlos Drummond de Andrade

Flor de Liz

dezembro 18, 2006 às 10:33 pm | Publicado em Circuladô de Fulô | Deixe um comentário

Flor de liz, não vá dizer
Se o vento tem compaixão
Pra te ver, te fazer esquecer
Da dor no coração
Eu sei que o farol
Te faz relembrar
Das noites com girassol
Talvez se você não chorar
Se você me deixar ajudar
Te tocar no coração
Saber que mais forte que a dor
É o amor que bate por ti
Amor no tambor beija-flor.

Flor me diz, o que fazer
Se um beijo seu eu não posso ter
Se não fiz, por merecer
Quem sabe se eu te disser
Mas duro é o amor de partir
Se fica a olhar ele ir
Mas puro é o amor que está aqui
É só você se deixar sentir
Não temer só sorrir
Dizer que só quer ser feliz
Poder ver o pôr-do-sol
Com o beija-flor
Não mais com o girassol.

Circuladô de Fulô

Canção desse rumor

dezembro 18, 2006 às 3:37 pm | Publicado em Lya Luft | Deixe um comentário

Quem – estando ausente – entra no quarto,
quem deita ao lado meu, quem passa
no meu coração seus lábios quentes, quem
desperta em mim as feras todas,
quem me rasga e cura,
quem me atrai?

Quem murmura na treva e acende estrelas,
quem me leva em marés de sono e riso
quem invade meu dia após a noite,
quem vem – estando ausente –
e nunca vai? 

Lya Luft

Cantiga de acordar

dezembro 18, 2006 às 7:03 am | Publicado em Chico Buarque | Deixe um comentário

Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés
Chico Buarque

A felicidade

dezembro 18, 2006 às 6:41 am | Publicado em Vínicius de Moraes | Deixe um comentário

Tristeza não tem fim
Felicidade sim…
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Prá fazer a fantasia
De rei, ou de pirata ou jardineira
Prá tudo se acabar na quarta feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim…
A felicidade é como a gota de orvalho
Numa pétala de flor
brilha tranqüila
Depois de leve oscila…
E cai como uma lágrima de amor
A felicidade está sonhando
Nos olhinhos do meu namorado
É como essa noite passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo por favor…
Prá que ele acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor

Vinicius de Moraes e Tom Jobim

Quase sem querer

dezembro 18, 2006 às 6:38 am | Publicado em Renato Russo | 1 Comentário

Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso.
Só que agora é diferente:
Estou tão tranquilo
E tão contente.
Quantas chances
desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada p’ra ninguém.
Me fiz em mil pedaços
P’ra você juntar
E queria sempre achar
Explicação p’ro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir p’ra si mesmo
É sempre a pior mentira.
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber
Tudo.
Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.

Renato Russo

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