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dezembro 22, 2010 às 3:48 am | Publicado em Alain de Botton | Deixe um comentário

Palavras como amor ou dedicação ou paixão estavam exauridas pelo peso das sucessivas histórias de amor, pelas camadas impostas a elas pelo uso dos outros. No momento em que eu mais queria que a linguagem fosse original, pessoal e de todo privada, eu me chocava com a natureza irrevogavelmente pública da linguagem do coração.

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Então notei um pratinho de marshmallows de cortesia perto do cotovelo de Chloe. Inexplicavelmente de um ponto de vista semântico, de repente me pareceu claro que eu não sentia amor por Chloe tanto quanto marshmallow. O que havia num marshmallow que deveria subitamente ter combinado de forma tão perfeita com meus sentimentos para com ela jamais saberei , mas a palavra parecia capturar a essência do meu estado amoroso com uma precisão a que a palavra amor, desgastada pelo excesso de uso, simplesmente não podia aspirar. Até mesmo de forma mais inexplicável, quando peguei a mão de Chloe e, com um pé em Bogart e outro em Romeu, falei que tinha algo muito importante a lhe dizer, que eu a marshmellava, ela pareceu entender perfeitamente, respondendo que era a coisa mais doce que alguém havia lhe dito.

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E dali por diante, o amor foi, pelo menos para mim e Chloe, não mais simplesmente amor, era um objeto fofo e açucarado de poucos milímetros de diâmetro que derrete deliciosamente na boca.

Alain de Botton – em Ensaios de amor

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